Tuesday, March 5, 2013

F-1 Sul-Africana

 

Sabiam que a televisão só foi estabelecida na África do Sul em 1976? Está certo que estamos falando do continente africano, mas o país era, de longe, o mais desenvolvido da África. Em compensação, nós tínhamos a TV desde 1950. Em típico estilo tupiniquim, nossa primeira transmissão foi feita com uns 3 ou 4 aparelhos receptores instalados na cidade de São Paulo inteira, outra excentricidade do Assis Chateaubriand. Mas ninguém pode dizer que o feito não foi seu. Já na África do Sul, a coisa começou aos milhões.

Embora não tivesse TV, a África do Sul era o único país do mundo a ter um campeonato local de Formula 1. Os argentinos também tinham uma Fórmula 1, mas na realidade esta era mais uma Formula 5000 do que Formula 1, fora do regulamento internacional, com motores de carros argentinos de linha preparados. Já os sul-africanos disputavam o campeonato com o regulamento internacional.

Apesar das distâncias e dificuldades, já se realizavam corridas de alto nível no país desde os anos 30, com a participação da Mercedes Benz e Auto Union. Já em 1960, instituiu-se um campeonato local de Fórmula 1, além do país passar a fazer parte do calendário mundial em 1962. Notem que não foi o primeiro país do continente africano a fazer parte do campeonato da F-1, a honra coube ao Marrocos nos anos 50. Diversos construtores locais disputavam as corridas contra Lotus, Brabham e Coopers importados. Entre os muitos “especiais”, muitos com motor Alfa-Romeo não usado na F-1 européia, destacou-se o LDS, que chegou a marcar pontos no Mundial de Pilotos. Os pilotos locais só disputavam o GP do seu país, destacando-se o rodesiano John Love, Dave Charlton, Neville Lederle, Basil Van Royen, Paddy Driver, Jackie Pretorius, Sam Tingle, Doug Serrurrier e Peter de Klerk.

Este é o LDS construído na África do Sul
Com o advento da Formula 1 de 3 litros o campeonato continuou, e de fato, quase ocorre a maior zebra da F-1 justamente em Kyalami. John Love, com um Cooper Clímax de 2,7 litros se viu na liderança nos estágios finais do GP de 1967 e quase ganha a corrida. Acabou em segundo, de longe o melhor resultado dos competidores do sul-africano no mundial de pilotos.

Dave Charlton e sua Lotus 49, em 1971. Atrás, John Love com March
Disputar corridas com carros de F-1 sempre foi caro, assim que os grids eram completados por carros de F-2, Formula Tasman, e eventualmente, Formula 5000. Os principais carros geralmente eram bem modernos. Dave Charlton comprou um Lotus 72 e passou a disputar as corridas com este em 1971. Acabou disputando algumas corridas como piloto oficial da Lotus no mesmo ano, e no ano seguinte correu algumas provas na Europa com o carro da equipe Lucky Strike. Em 1974, trocou o carro por um McLaren M23. O Tyrrel 003 acabou na África do Sul, nas mãos de Eddie Keizan, e um 007 disputou o campeonato de 1975 com Ian Scheckter. CUIDADO COM O VERBETE DA WIKIPEDIA, contém erros, e não vou ser eu a corrigi-lo.

Curiosamente, os dois grandes expoentes sul-africanos na Formula 1 internacional não procederam deste campeonato. Tony Maggs, que foi piloto oficial da Cooper no início da década de 60, obtendo dois segundos lugares, e Jody Scheckter, que chegou a campeão mundial em 1979, fizeram carreira na Europa independente do Sul-Africano de F-1. De fato, tenho quase certeza de que Jody nunca correu no campeonato.

O Tyrrel 007 de Ian Scheckter em 1975

A festa acabou em 1975. Curiosamente, num ano acabou a F-1 sul africana, no ano seguinte iniciaram-se as transmissões televisivas na África do Sul! Não se pode querer tudo na vida, não é mesmo. Toma lá, dá cá. Os sul-africanos finalmente poderiam ver transmissões de corridas de F-1 em suas casas, mas a única corrida de F-1 no país passaria a ser o GP, que logo, logo iria para o escambau. O número de F-1s competitivos ficava cada vez menor, tornava-se difícil comprar carros dos fabricantes europeus, pois estes não aceitavam mais encomendas, os fabricantes locais desapareceram e a crise financeira mundial persistia. Assim, a partir de 1976 os sul-africanos adotaram a Formula Atlantic como principal categoria de monopostos.

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