Thursday, March 7, 2013

A BRM nas provas extra-campeonato de 1972



Para entender plenamente o grau de insucesso da BRM na Temporada de Formula 1 de 1972 basta analisar rapidamente a sua performance nas diversas corridas extra-campeonato daquela temporada - e foram diversas.

A BRM foi uma das duas únicas equipes a participar de todas as provas extra-campeonato daquele ano. E a única a participar sempre com mais de um carro. Apesar de tanto volume de participação, a equipe só conseguiu uma vitória e um segundo lugar, ambos obras de Jean Pierre Beltoise. Isto pode parecer muito, mas considerem que em muitas corridas, mais da metade das equipes competitivas não participaram. E a Lotus ganhou quatro corridas.

Na Corrida dos Campeões, realizada em Brands Hatch, a BRM participou com Gethin, Ganley e Beltoise. Gethin marcou o segundo tempo nos treinos, ao passo que Ganley largou em sétimo e Beltoise em nono lugar (e ante-penúltimo entre os F1). Nesta corrida as 3 BRM terminaram (fato raro), com Gethin em quarto, Beltoise em sexto e Ganley em sétimo.

No GP do Brasil, a BRM foi completamente humilhada. A equipe compareceu com quatro carros, para Beltoise, Gethin, Marko e Soler-Roig. Beltoise largou em sexto, mas seus companheiros populavam as duas últimas filas do pequeno grid (Gethin em nono, Marko em décimo-primeiro e Soler-Roig em último). Na corrida, somente Marko figurou entre os seis primeiros, chegando em quarto. Beltoise nem conseguiu largar, e Gethin não passou da primeira volta. Soler-Roig abandonou na décima segunda volta.

No Daily Express, em Silverstone, a BRM maneirou na quantidade, e só inscreveu Beltoise e Gethin. Eis aqui a chave dos problemas da BRM. A insistência em inscrever muitos carros, resultava em problemas mecânicos, muitos abandonos e mau desempenho nos treinos. Nesta corrida, emblematicamente, dois carros da BRM ocupavam lugares na primeira fila (Gethin em segundo e Beltoise em terceiro). De fato, Beltoise largou melhor, seguido de Gethin, e as duas BRM ficaram um tempinho em 1-2. Na sétima volta, Emerson ultrapassou Beltoise, e não mais perdeu a liderança. Ainda assim, Beltoise chegou em segundo e Gethin, em sexto.

Ocorre que Louis Stanley não aprendeu a boa lição, e na Gold Cup, em Oulton Park, inscreveu Gethin, Wissel e Schuppan, com três tipos de carros diferentes (um P153, outro P160 e o P180). Ainda assim, Gethin que tinha o P160, largou em primeiro, Schuppan em sexto e Wissel em sétimo. Gethin novamente disparou na frente, mas na volta 10, tanto Wissel como Gethin haviam abandonado. A única BRM no final era Schuppan, que terminou em quinto, último entre os poucos F1 que terminaram a corrida.



BRM P 180, um dos três modelos usados pela equipe em 1972

No fraquíssimo GP Republica Italiana, que teve somente oito carros inscritos, a BRM compareceu com Ganley e Gethin. O neozelandês largou na primeira fila, ao lado do pole Emerson, que apesar de não estar com o carro em boas condições nas primeiras voltas, ainda assim conseguiu manter seu carro à frente de Ganley. Gethin abandonou na volta 32, e Ganley começou a ter problemas na décima-terceira volta. Howden acabou sendo o último classificado, quinto, 19 voltas atrás.

A Rothmans 50.000 foi uma corrida de Formula Libre, e não de F1. Disputaram a prova carros de F1, F2, F5000 e até um protótipo. Entre os inscritos estava até Antonio Carlos Avallone, com um "especial" que não deu as caras. Só havia seis carros de F1 classificados, e a BRM tinha dois inscritos, Beltoise e Ganley. Em tese, poderia ser uma boa oportunidade de vitória, pois Beltoise largou em terceiro, e Ganley em quarto. Só que Emerson Fittipaldi (sempre ele) também estava inscrito, e as BRM não figuraram bem no final. Beltoise chegou em décimo-quinto, atrás de diversos F2 e F5000, ao passo que Ganley abandonou na volta 47.

A última corrida do ano foi a Corrida da Vitória, chamada John Player Challenge Trophy. Era uma corrida em homenagem ao campeão Emerson Fittipaldi, que marcou a pole mais uma vez. Havia três BRMs na pista, Beltoise com o P180, e Gethin e Schuppan com P160. Desta feita os carros de Bourne largaram bem atrás, Beltoise em 7o., Gethin em nono e Schuppan em décimo quinto. A corrida foi uma semi-redenção da BRM, pois o homenageado Emerson abandonou, Ronnie Peterson teve problemas na sua despedida da March, e Beltoise ganhou, com Schuppan em quarto e Gethin em quinto. Como conjunto foi de longe a melhor corrida da BRM do ano inteiro. 100% de confiabilidade, e os 3 carros entre os seis primeiros - e na frente de diversos outros Formula 1.

Mas na maior parte desta temporada paralela, as BRM foram mal preparadas, perdendo grandes oportunidades de obter bons resultados, em face de fraca oposição. Não é a toa que no campeonato, com outros concorrentes fortes como Tyrrel e Ferrari, que não participaram de nenhuma prova extra-campeonato, os carros da BRM mal figuraram na zona de pontuação. Não há dúvidas, para mim, que a performance da equipe teria sido bem melhor se só dois carros fossem inscritos (Beltoise e Ganley, ou Beltoise e Wissel), mas Stanley preferiu quantidade em vez de qualidade.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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