Thursday, March 14, 2013

A capacidade de se reinventar

Podem falar tudo do automobilismo brasileiro, porém, ninguém pode questionar a persistência dos seus participantes.

O esporte tem sobrevivido há anos, apesar de todo tipo de ataque, externo ou interno. Sem ir muito longe, começando nos anos 60, com a longa guerra entre o ACB e a CBA, a saída das fábricas das corridas, o fechamento de Interlagos, a implicância dos militares.

Em 1980, apesar de a economia do País já começar a entrar na sua fase mais conturbada da história, o automobilismo até parecia estar indo bem. Daí veio a bomba - a Volkswagen estava saindo do automobilismo com efeito imediato, e de uma vez só acabavam três importantes categorias-campeonatos no Brasil: a Fórmula VW 1600, Fórmula VW 1300 e o Torneio Passat.

Para muitos, parecia o começo do fim. Porém, contra todas as expectativas de falência completa do esporte, muita coisa aconteceu naquele ano de 1981, que se não teve efeito muito duradouro, pelo menos, manteve o interesse dos envolvidos.

No lugar da VW 1600, surgiu a Fórmula 2 Brasil, inaugurada com casa cheia em Interlagos. É bem verdade que a categoria foi em grande parte uma continuidade da Fórmula VW 1600, porém, foram tentadas novas motorizações durante o ano, entre as quais a mais bem sucedida foi o motor do Passat, e surgiu pelo menos um carro novo competitivo, o Muffatão, cópia brasileira do Berta.

A Fórmula VW 1300 acabou virando a Fórmula Fiat. Embora a FFiat nunca atingiu o status da Fórmula VW1300, teve o mérito de revelar um futuro piloto de F-1, Mauricio Gugelmin, oferecendo 1 milhão em prêmios de largada na sua primeira corrida, também em Interlagos.

Surgiu também a categoria Turismo 5000, que trazia de volta às pistas o Maverick, além de Dojões e mesmo um Galaxie. O regulamento da categoria em São Paulo só permitia a participação de pilotos sem pontuação em campeonatos brasileiros, dando assim chance a um lugar ao sol a pilotos que não estavam obtendo sucesso em outras categorias.

Além disso, surgiu o Autocross no Brasil, com a primeira pista na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, estado com grandes pilotos, prém, sem pistas para carros, só kartódromo.

E mesmo um autódromo foi criado em Recife, o Joana Bezerra, expandindo as opções automobilísticas no Nordeste que perdera a Fórmula VW 1300.

Enfim, apesar da crise, falta de grana e apoio, o automobilismo seguia em frente, no ano em que um piloto brasileiro voltava a se sagrar campeão mundial.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo

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