Thursday, April 4, 2013

NASCAR em Le Mans

Hoje não há dúvidas de que a corrida 24 Horas de Le Mans é a mais importante prova de carros esporte do mundo. Na verdade tal dúvida não existia já em 1976, e de fato, é bem possível que a intransigência do ACO de criar seu próprio regulamento e sair do campeonato mundial possa ter garantido a sobrevivência da disciplina até hoje. Sem exagero.

Em 1976 a ACO fez um regulamento ainda mais radical do que 1975, admitindo não só carros do Grupo 5 e 6, quase anátema para a FIA naquele ano, como carros do Grupo 4, Grupo 2, e as novas categorias IMSA e GTP. Além disso, uma grande supresa, a categoria NASCAR!

É verdade que nos anos 50 Briggs Cunnigham trouxe imensos Cadillacs para Le Mans, um na forma de sedã e o outro um protótipo com pretensões "aerodinâmicas", batizado de Le Monstre pelos franceses. Porém, os grandes sedãs americanos não faziam parte da receita na era moderna da corrida.

Já em Daytona, diversos carros da NASCAR (da categoria inferior Grand National) foram inscritos, um dos quais, um Dodge Charger, foi pilotado por Arturo Merzario, entre outros. Carros da NASCAR estavam acostumados com Daytona, mas Le Mans certamente seria muito mais duro para os potentes, porém pesados carros, difíceis de frear. Pois em Le Mans viriam os carros que disputavam a categoria principal, bem maiores do que os Chevy Nova que disputaram Daytona.

No fim das contas só vieram dois stocks, um Dodge Charger e um Ford Torino. No Dodge, a dupla de pai-filho Hershel Mcgriff e Doug Mcgriff, durou duas voltas e foi alijada por um incêndio. No Ford, Dick Brooks e Dick Hutcherson, com a ajuda do corajoso francês Marcel Mignot, duraram mais tempo, 104 voltas, na realidade permanecendo muito mais tempo na pista do que o BMW de fábrica.

Em 1976 McGriff pai já era um veterano com V maiúsculo. De fato, em 1950 já ganhara a Carrera Panamericana, mesmo ano em que estreou na NASCAR. Entre 1950 e 1993, o piloto nascido em 1927 participou de 87 corridas, ganhando quatro provas. Suas vitórias vieram em 1954, o único ano em que disputou o campeonato com seriedade. Na realidade, Hershel participava com afinco do campeonato NASCAR Winston West, que ganhou em 1986 e no qual acumulava corridas com frequência, e limitava suas participações às corridas na costa Oeste.

Seu filho Doug curiosamente nunca participou de corridas do campeonato nacional da NASCAR.

Dick Brooks fazia parte de um grupo de pilotos com boa reputação na NASCAR dos anos 70, que entretanto, nunca atingiram o status de estrelas como os Petty e Pearson da vida . Entre eles estavam Brooks, Lennie Pond, Coo Coo Marlin, James Hylton e Cecil Gordon. Iniciou sua carreira em 1969, e terminou em 1985, com uma vitória, cinco segundos lugares, 17 terceiros, 10 quartos, 24 quintos, e terminando 93 vezes entre o sexto e décimo lugares. participou de 358 corridas, e conseguiu romper a barreira psicológica de um milhão de dólares em prêmios totais já em 1983. Cabe notar que este fato era relativamente raro na época.

Já Dick Hutcherson participou pouco tempo das corridas de NASCAR, porém conseguiu o total de 14 vitórias, 19 segundos lugares e 17 terceiros lugares, entre 1964 e 1967. Além disso, foi vice-campeão em 1965 e terceiro, em 1967, conseguindo 9 de suas vitórias em 1965.

Os carros da NASCAR não voltaram a Le Mans, porém o recado do ACO à FIA estava dado. Se necessário, aceitaria até carrinhos de rolimã para manter o show andando!

Pena que não tenha feito a mesma coisa em 1992.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo, baseado em Miami 

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